ÉDEN

Fazia tempo que eu não assistia a um filme que me deixasse com aquele siricutico no fim. Éden dirigido pelo Ron Howard e com um elenco sensacional é baseado em fatos reais, conta a história da Ilha Floreana, em Galápagos que, até então, eu só conhecia por causa das tartarugas gigantes.

Em 1932, um casal vive há alguns anos nessa ilha remota, completamente isolado, comunicando-se com o mundo através de uma caixa de correio improvisada que os navios de passagem utilizam. Eles construíram uma vida de sobrevivência, bem fora do sistema. O Dr. está escrevendo um livro sobre “a verdade da humanidade” e fugindo do caos da sociedade moderna.

Tudo muda quando um veterano de guerra, sua esposa e seus filhos decidem abandonar a Alemanha e recomeçar do zero na ilha, motivados pela crise financeira da época e pela doença do filho, que tem tuberculose. Mas ao chegar lá, o encontro entre os dois casais é hilário: o médico, que foi morar no fim do mundo justamente pra não ter vizinhos, acaba recebendo visitas!

Eles os recebem friamente, emprestam um burro pra carregar as malas e ainda indicam um pedaço de terra praticamente infértil só pra ver se desistem logo e vão embora. Mas não é que a família se adapta? Mesmo com a esposa grávida, eles constroem um poço de água potável, plantam uma horta, domesticam um cachorro selvagem e até prendem uma vaca pra tirar leite. Tudo parece caminhar bem... até que chega uma suposta baronesa.

A “baronesa” é uma mulher extravagante, manipuladora e completamente sem limites. Afirma que vai construir um hotel de luxo na ilha, mesmo sem apresentar recursos, e logo começa a colocar os moradores uns contra os outros. É impressionante como alguém pode acreditar tanto na própria mentira a ponto de habitá-la intensamente. Ali, o filme revela o retrato cru da convivência humana, o ego, a inveja, os interesses e o descontrole mostrando que, muitas vezes, esses fatores são mais difíceis de enfrentar do que a própria natureza.

O Dr., antes focado em sua filosofia e propósito, começa a se comparar com a família vizinha que prospera e a comparação, como sabemos, é veneno. Ele perde o foco, a comida escasseia, e sua esposa, que sofre de esclerose, tenta alertá-lo se mostrando-se a mais fiel ao proposito deles. Enquanto isso, a baronesa rouba mantimentos, manipula situações e cria uma tensão quase insuportável.

Quando finalmente dão fim na baronesa, imaginamos que o clima vai acalmar. Mas não. O conflito continua, e as relações se tornam ainda mais doentias. No fim, percebemos que a esposa do veterano, aparentemente calma, sonsa e delicada, é quem mais entende o jogo, fria e estratégica, sobrevive a todos, desmascara mentiras e permanece na ilha, fiel ao seu recomeço.

Éden é um estudo fascinante sobre o ser humano fora da civilização e como, mesmo longe dela, os nossos demônios sociais continuam nos acompanhando.