A Cor Púrpura (Alice Walker)
- Laila Vitória
- 1 de out.
- 3 min de leitura

A Cor Púrpura, de Alice Walker, foi uma leitura que me emocionou do começo ao fim. A história de Celie, entre 1900 e 1940 no sul dos Estados Unidos, é marcada pela violência, pelo racismo e pelo machismo, mas também pela resistência e pela busca por amor próprio.
Escrito em formato de cartas para Deus, o livro transmite uma intimidade única, nós tornando próximo da protagonista. Celie é uma menina pobre e semianalfabeta, obrigada a abandonar a escola para cuidar da casa quando sua mãe adoece. Sua irmã mais nova, Nettie, continua estudando e, depois das aulas, repassa o que aprende para Celie.
Mas sua vida é atravessada por abusos, Celie sofre violência sexual do próprio pai, engravida e é tem os seus filhos tomados pelo pai que os entregam para outra família, mas Celie acreditava que estavam mortos. Pouco depois, é forçada a se casar com o “Senhor” (que depois descobrimos se chamar Albert, esse distanciamento já mostra a relação fria que tinham). Ele era um recém viúvo violento, que a tratava como empregada e a fazia cuidar de seus filhos malcriados. Celie é muito submissa e se cala diante das agressões e humilhações. Eu, como leitora, ficava torcendo para ela reagir, mas a personagem se mostra acostumada a acreditar que era normal ser tratada daquela forma.
O que começa a transformar sua vida são as mulheres que cruzam seu caminho. Primeiro, Sofia, esposa de Harpo (enteado de Celie), que não aceita submissão e enfrenta os homens com coragem, ensinando Celie a questionar. Mais tarde, chega Shug Avery, cantora independente e amante de Albert, que aos poucos desperta em Celie um amor inesperado. Com Shug Avery, Celie descobre o prazer, a autoestima e a possibilidade de ser amada de verdade.
Essa relação é um divisor de águas, porque Shug a ajuda a compreender que sua voz tem valor e que sua vida não precisa ser controlada pelos outros. Celie aprende a costurar calças, transforma essa habilidade em meio de sustento e, finalmente, encontra independência financeira e emocional.
Uma parte do livro se volta para a história de sua irmã Nettie, que, após ser expulsa de casa, encontra um casal de missionários que havia adotado duas crianças (SPOILER: os filhos de Celie). Eles partem em missão para a África, e Nettie embarca junto. Preciso confessar que eu estava muito envolvida com a narrativa da Celie e, quando o livro muda para Nettie, fiquei um pouco decepcionada. Mas depois percebi como esse recurso é importante para ampliar o contexto e logo a narrativa retorna para Celie.
Um dos pontos mais emocionantes da trama é a volta das cartas: Celie descobre que Nettie está viva e nunca deixou de escrever para ela, como haviam prometido na juventude. Albert (o desgraçado!) escondia todas as cartas da irmã. Nesse momento, mesmo pela escrita, Celie recupera a esperança e a sensação de pertencimento.
O final do livro é emocinante. Já mais velha, Celie se reconcilia consigo mesma, com sua história e até com Albert, que se mostra arrependido e transformado. Quando Nettie retorna depois de anos distante, trazendo consigo os filhos de Celie, o círculo finalmente se fecha em um momento de plenitude e reparação.
A Cor Púrpura é um livro duro, mas também luminoso. Ele fala de dor, racismo, machismo e abuso, mas principalmente de cura, amizade, afeto entre mulheres e a busca por dignidade. É impossível acompanhar Celie sem se emocionar e sem refletir sobre a força de quem, mesmo tendo tudo contra si, consegue reinventar a própria vida.




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