AMERICANAH (Chimamanda N. Adichie)
- Laila Vitória
- 30 de set.
- 3 min de leitura
Atualizado: 30 de set.

Esse livro ganhou meu coração, e eu sei que isso não é difícil.
Minha primeira impressão foi que seria um livro imenso. De fato, são mais de 500 páginas, e meu receio era que fosse daquelas leituras em que o autor “enche linguiça”, e o leitor mais agitado, como eu, acaba desistindo. Boa notícia: não é o caso aqui. Chimamanda tem muito o que dizer, é um livro envolvente, cheia de situações e acontecimentos do começo ao fim. Eu não tiraria nada.
O livro começa com a protagonista Ifemelu em um salão de beleza, lidando com a dificuldade de encontrar um lugar para trançar seus cabelos crespos. É uma cena aparentemente simples, mas que já nos dá uma visão muito interessante sobre o seu principal tema. Preciso dizer que a personagem principal se tornou um dos meus personagens favoritos, ela é muito autentica, crítica e verdadeira, comete erros igual a todo mundo e o que torna tão real.
Ifemelu é uma nigeriana que vive em Lagos. Após o ensino médio, vai para a faculdade em meio a um período de ditadura militar, com a faculdade sem recursos e professores em constante greve. Ela decide então estudar nos Estados Unidos. Até esse ponto, o livro explora a vida na Nigéria, a cultura local e seu relacionamento com Obinze, seu grande amor da juventude.
Quando Ifemelu chega aos Estados Unidos, é que o livro realmente mergulha nas questões raciais. Ela percebe que, até então, nunca havia refletido profundamente sobre raça. Nos EUA, o contraste entre sua identidade nigeriana e como os outros a veem como negra é um choque e Chimamanda mostra isso de forma brilhante. A narrativa aborda a dificuldade de adaptação, a luta por emprego e, em alguns momentos, as escolhas difíceis que Ifemelu precisa fazer para se manter, como situações de prostituição, o que gera vergonha e medo de contar para Obinze, afastando eles.
O livro também explora os relacionamentos de Ifemelu. Com Curt, jovem americano rico e bonito, vemos o “sonho americano” na prática, mas também a superficialidade e a falta de compreensão das questões raciais. Para mim, Curt parecia apaixonado mais pela ideia de ter uma mulher africana do que pela própria Ifemelu. Em contraste, Blaine, afro-americano e ativista, proporciona uma reflexão mais profunda sobre as diferenças e dores de ser africano e afro-americano, com diálogos que nos fazem pensar sobre cultura, identidade e ativismo.
No entanto, Ifemelu decide, como no início do livro, voltar para a Nigéria. Esse momento me fez refletir sobre a fidelidade dela à própria verdade, àquilo que ela realmente é e de onde vem. Há uma parte emocionante em que ela se esforçou para falar inglês sem sotaque e, quando elogiada por isso, se sente mal por gostar de um elogio que a desconecta de sua identidade. Ela decide então manter seu sotaque nigeriano, assim como assume seus cabelos crespos, mesmo quando no início da vida americana precisou alisá-los para conseguir um emprego e se sentiu triste com isso.
Enquanto isso, Obinze tenta a vida na Inglaterra. O livro é honesto ao mostrar as dificuldades de imigração, o preconceito e o pré-julgamento. Ele é deportado, mas isso acaba sendo um ponto de virada: retorna à Nigéria, prospera financeiramente e se casa, inicialmente, com uma mulher que não é Ifemelu. O romance deles funciona como fio condutor para as questões centrais do livro, mostrando o amor arrebatador entre eles e como suas experiências, separadas pelo tempo e pelo espaço, moldaram suas identidades.
O livro tem muitos personagens: família, amigos, colegas. Cada história paralela poderia render uma resenha enorme, mas meu foco foi mesmo na experiência de Ifemelu, sua trajetória, identidade e relacionamentos.
Eu adorei Americanah. É um livro que emociona, provoca reflexões sobre raça, identidade e pertencimento, e que permanece com você muito depois da última página.




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