Terra Partida (Clare Leslie Hall)

Não sei nem por onde começar, só sei que foi impossível largar esse livro. A escrita é envolvente e nos prende nos dilemas amorosos e emocionais da protagonista Beth, que leva uma vida simples no interior de Dorset ao lado do marido, Frank, e do cunhado Jimmy, ajudando nos trabalhos da fazenda.

Tudo muda quando, em um dia aparentemente comum, Jimmy atira em um cachorro que havia invadido as terras. O que parecia um episódio banal acaba desencadeando uma série de acontecimentos que mexem com o passado de Beth porque o animal pertencia ao filho de Gabriel Wolfe, um antigo amor dela.

A partir daí, Beth acaba se aproximando de Leo, a criança, e, de forma inesperada, assume o papel de babá do menino. Confesso que achei estranho cuidar do filho do ex enquanto ainda guarda cicatrizes de um amor mal resolvido mas isso também revela muito sobre sua dor pela perda do próprio filho, já que de certa forma ela projeta nele o que perdeu.

Essa convivência desperta memórias, sentimentos adormecidos e reacende a paixão entre Beth e Gabriel, levando-a a trair Frank. A narrativa então mergulha em uma rede de segredos, mágoas antigas, ciúmes e escolhas difíceis, enquanto Beth se vê dividida entre o peso do passado e as dores que carrega no presente.

O desfecho me deixou dividida e até um pouco revoltada. Beth, ao se perder entre o amor por Gabriel e a vida construída com Frank, acaba pagando um preço alto. Ela e Frank decidem continuar o casamento, mas esse não é um final romântico, é cru, realista e até doloroso. Senti compaixão por Frank, que parecia ser um parceiro íntegro, mas acabou carregando o peso da traição. Clare Leslie Hall não entrega um conto de fadas, entrega a vida como ela é: nem sempre as paixões do passado fecham feridas, muitas vezes só as reabrem.

Terra Partida é um livro sobre perdas, escolhas e suas consequências inevitáveis. Um romance intenso que deixa aquela sensação amarga de que, por mais que se queira, não existe um caminho capaz de consertar todas as rachaduras.